PSOL, Rede, UP e PCO viram seus quadros aumentarem em Minas Gerais desde o pleito de 2020.
Quatro dos seis partidos políticos que apresentaram algum crescimento em filiações em Minas Gerais são do campo da esquerda: a federação PSOL/Rede, a recém-criada UP e o PCO, que, apesar de ter feito alianças com o bolsonarismo recentemente, ao longo dos anos se posicionou mais à esquerda, até porque a sigla significa Partido da Causa Operária. A avaliação dos presidentes estaduais do PSOL, Cacau Pereira, e da Rede, Paulo Lamac, é que as agremiações estão colhendo frutos de decisões internas, mas também de um cenário político favorável após a derrota do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) em 2022.
“É público e notório que o PT teve sua imagem desgastada nos últimos anos. As pessoas podem concordar ou não com as motivações que levaram a isso, mas é fato que existe uma resistência maior ao Partido dos Trabalhadores. O PSOL e a Rede acabam se projetando nacionalmente como alternativas à esquerda. Isso os credencia ao crescimento, com propostas inovadoras, humanistas e sustentabilistas, sem perder o aspecto social”, opina Paulo Lamac.
Cacau Pereira, do PSOL, diz que essa aproximação com novos filiados surgiu desde o período da pandemia, quando a agremiação começou sua interiorização, para além dos espaços urbanos. Para ele, esse processo se acelerou após o retorno de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
“Eu acredito que há um espaço político para a esquerda após a vitória do Lula que alguns partidos de esquerda estão tentando ocupar. Isso talvez explique também o crescimento do PSOL, da Rede e da própria UP. Uma parte da esquerda está compreendendo esse momento de retomada, até em resposta ao que foi o enorme avanço da extrema direita nos últimos anos”, afirma o presidente do diretório estadual do PSOL.
Para o professor do Departamento de Ciência Política da UFMG e doutor em sociologia pela Uerj Cristiano dos Santos Rodrigues, o crescimento da esquerda está ligado à ideologia dessas siglas. “Não acho que os cidadãos de esquerda tenham mais interesse em participar da política. Na verdade, acho que esses partidos têm mais capilaridade na sociedade civil, por meio dos movimentos e organizações sociais. Isso aumenta o interesse. Por outro lado, o Novo, por exemplo, cobra uma taxa de filiação dos interessados, o que limita”, explica Rodrigues.
Na contramão da tendência estadual, o PSOL ganhou cerca de 3.300 filiados desde a eleição de 2020. Para o presidente do diretório estadual da agremiação, Cacau Pereira, o crescimento reflete o trabalho interno da legenda, que dá voz ao filiado nas decisões internas da sigla.
Ele cita, ainda, outros fatores por trás do crescimento. “Embora haja partidos grandes, como o PT, trata-se de legendas que caíram numa raia de institucionalização, com priorização única do terreno eleitoral. Então essa vinculação do PSOL com a juventude, com o movimento feminista, com negros e negras e com a população LGBTQIA+ tem feito o partido ganhar espaço”, analisa Cacau.
Federada com o PSOL, a Rede Sustentabilidade foi o segundo partido que mais cresceu em filiações no período. Em Minas, a legenda ganhou cerca de mil filiados desde outubro de 2020. Para o presidente da legenda no Estado, o ex-vice-prefeito de Belo Horizonte Paulo Lamac, a política em geral foi criminalizada, mas alguns fatores ajudam a explicar a ascensão da Rede.
“Eu penso que, quanto mais consolidado e tradicional é o partido, menos natural é uma iniciativa de filiação partidária. Mas a Rede traz inovações muito representativas e alinhadas ao cenário atual. A própria palavra ‘sustentabilidade’, que, quando a Rede foi fundada, não fazia parte do vocabulário nacional. Hoje, a pauta ambiental faz sentido para muita gente, principalmente gente jovem”, explica Lamac.
Mais ao centro, o Solidariedade também registrou crescimento em cerca de três anos, ainda que de apenas 127 filiados. Para o presidente do partido em Minas, o deputado federal Zé Silva, o aumento está ligado a diversos fatores.
“Atuamos no sentido de evitar a polarização que tomou conta do Brasil nas últimas eleições. Tem também o nosso investimento em formação de militância. Então os recursos partidários são efetivamente aplicados em cursos e encontros para discutir pautas que são prioritárias para o partido e nossos políticos”, diz Silva.
Para ele, a aproximação com o governador Romeu Zema (Novo) influenciou. “Em Minas, trabalhamos, desde a metade do seu primeiro mandato, pela reeleição do governador Romeu Zema, o que atraiu também parte significativa dos militantes e políticos interessados nas eleições municipais”, completa.
Já o presidente do PTB em Minas Gerais, David Zica, diz que a queda de filiados da legenda se deve ao resultado da última eleição. “Montamos uma chapa para eleger ao menos dois deputados federais e dois estaduais, mas esse fenômeno do Nikolas (Ferreira, deputado federal pelo PL) tirou votos de todos os partidos (de direita), e com o nosso não foi diferente”, explica.
Por sua vez, o deputado federal Mário Heringer, presidente do PDT em Minas, reconheceu a queda de filiados. “Estamos trabalhando para reconquistar esse espaço. Conquistar filiados é conquistar o coração do eleitor”, afirma.
A reportagem fez contato com os diretórios estaduais do PT, do União Brasil e do Podemos para falar sobre a redução de filiados, mas não obteve retorno.